Projeto Verão

Vou buscar o sol

Sua luz ao rosto

O ardor no peito

Um brinde ao calor

Quero admirar o sol

Quando quase posto

Em seu belo leito

De diário esplendor

Aguardado solstício

De celebração à vida

Na primavera gerada

Bem-vindo é o início

De estação tão querida

À existência renovada

Em cinco atos

Desfeitos fatos

De sonhos inatos

Dos dias novatos

Trazem novos tratos

Pretensos retratos

Não mais imediatos

E nada baratos

Mas ainda exatos

(Passa)Tempo

Contemplo a quietude

Em todo seu nada

Que transborda, inunda

Mas pouco leva a enxurrada

Nada lava, igualmente

Energia desperdiçada

É pausa em movimento

Estática revoada

High Kais

E quando encheu

Alva lua respondeu

Um mistério meu

Olhe

Aos lados, para atravessar

Acima, para se inspirar

Adentro, para desenhar

Feche os olhos, respire fundo

Olhe o horizonte:

pode começar

Nato

Fui cesárea

Nunca normal

Ainda assim

Tudo a fórceps?

High Kais

Entendi mesmo

Não quando desenhado

Mas sussurrado

Não perca a chance

De enxergar por outro lado
De fazer as pazes com o passado
De retomar o incabado
De fazer-se desculpado
De mitigar o complicado
De despertar renovado
De dar um abraço apertado
De ser um pouco safado
De sentir no peito um tornado

High Kais

"Precisas sonhar"

Isso já faço demais

Quero é gozar

Jogo dos dias

Decretou a voz ao lado

"És casado com a sorte!"

O Tempo, enciumado

Fez cativa a consorte

Feito lobo solitário

Para seguir, lambi o corte

Sem comprar o calvário

Nem mais temer a morte

Mesmo em nevoeiro pesado

Tateei rumo ao meu norte

No hercúleo ofício diário

De manter a alma forte

Catarse

Se te fala

Se te embala

Se te chacoalha

Que te valha

Meuniverso

Planeta eu

Algo ferveu

No núcleo do peito

Causa e efeito

Lava incandescente

Da alma fervente

Terremoto na pele

A mesmice repele

Dentre os escombros

Tensão nos ombros

Dúvida que persegue

A vida que segue

High Kais

Um amálgama
Feito cálido magma
Ferve na alma

Redondilha de dois

Só tu enxergas perigo
Refresca-te nessa chuva
Sai logo desse abrigo
Arrisca em nós teu tudo
e enlouquece comigo

E agora?

Quando
o status quo
Torna-se
um status "Quê?!"...

...aceitar por quê?

High Kais

Atirar pedras

Não saber apreciar

É do frustrado

No mar bravio

Na caravela dos dias
Lanço-me ao mar
Sem muita noção
De onde aportar
Pensando contente
Em o céu mirar
Permitindo ao leme
Nas estrelas se orientar
Sabendo que a viagem
Ainda há de demorar
Mas o coração da paz
Sorrindo sabe aguardar

Rastejo

Esse teu riso
Espécie de guizo
De uma cascavel
A inocular mel
Em minha alma
Que perde a calma
E ganha vida
Ao se encontrar (perdida...)

Um bocadinho mais

Do oito ao infinito
Oitenta é muito pouco
Quero é progressão geométrica
Que seja muito
Que seja tudo
Que tudo seja
Tudo enseja

High Kais

A bela graça
Somente lhe abraça
Sem a pirraça

High Kais

Se titubeio
Não é falta de rumo
É só neblina

High Kais

Apaga a luz
E deita a cabeça
A mente liga

E se?

E eu pegaria tuas dúvidas
e delas faria flores
E nas pétalas acharias
escritas todas as respostas

E eu pegaria teus sonhos
e deles faria estrelas
Para guardar teu sono
e balizar tua escuridão

Melhor agarrar forte tua mão
e te dar um abraço de apertão
Mágica, não sei não
Essa não é a questão

Sutis sussurros

Briguei com o céu

mas as estrelas perdoaram

Na limpa noite

e em silêncio me contaram:

“Estamos estáticas

mas nunca nos pararam”

Ligando-se feito pontos

curiosas coisas rabiscaram

Nada muito claro

mas a mensagem bem passaram

É na escuridão profunda

que as grandes luzes se criaram

Reflexo difuso

A mão passa
e não desembaça
Imagem estranha
d'alma que se acanha
Rumos acelerados
por fatos não esperados
Estrada pavimentada
vira trilha acidentada
E o alerta vermelho
persiste no espelho
Ainda que o perene reflexo
em si não encerre nexo

Mil voltas

Dia sucede dia
e muito fato a processar
Sabes que boa biografia
tem enredo não-linear

Vive agora
e revive muito à frente
Aprende na hora
e logo tudo se desmente

Trilha-se caminhos tortos
Vence-se pesadas agruras
Mas toda luta guarda glória

Pode ser álbum de fotos
ou cavalete cheio de gravuras
São retratos da tua história

Leve bem leve

Olha o macro
Belisca um naco
que não seja micro
E molha o bico

Mantém o foco
Não dá troco
nem passa recibo
Acha tua tribo

Cria teu rumo
Cuida do aprumo
e abstrai do problema
Esse é o esquema

High Kais

Vês como fardo
Melhor criar um fado
Não há pecado

High Kais

Aponta dedo
Só agrada o ego
Vive no medo

Revirada

Aquela parada
daquela pegada
Que é uma paulada
Bela presepada
Deu uma pirada
Bateu em retirada
Ficou marcada
mas não dá nada
Vem mais estrada

Ousadia

Lembra um pouco
as Páscoas da infância
Você enxerga as pegadas
Alguém com carinho
demarcou o caminho

Mas bate o medo
Era o que eu queria encontrar?
Não tem segredo
Será que tem só como olhar
ou tem que mergulhar?

Idílio

Não dá para simplificar
Apenas na trindade
O lugar, a hora
e a entidade

Ainda que cada parte
veja-se correta
Pode ter algo em volta
Que desgraça acarreta

Corpos entrelaçados
envoltos no momento
Ingênuos e enfeitiçados

Parece que converge
Quando menos espera
Perece e submerge

Transparência

É urgência
e efervescência
Haja paciência
Sapiência
e ciência
Foi-se a inocência
Jamais a decência
Saldou-se a consequência
Sobrou experiência
Que venha a excelência

Evadindo

Abre teu olho

Porto seguro

vira zona de conforto

E aí tu cai de maduro

Essa segurança que abraça

É sereia que canta

mas que também afoga

Já deu, te levanta!

Pula da janela

Derruba o muro

E não dá trela

Vê e ouve muito bem

e acima de tudo te deixa sentir

À leveza tudo vem

Exílio

Entrei no labirinto de você
que deu no labirinto de mim
que deu no labirinto de tudo
e tinha saída

Para o vazio
que estava cheio de tanto
E tudo sobrou
E tudo encheu
e foi mais que suficiente

Tinha saída
mas não tinha outra entrada
Fico no vácuo, então
Olhando de fora
digerindo essa demora